Sociedade Brasileira de Hansenologia lança Consenso de Terapêutica em Hanseníase

A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) apresenta ao país e ao mundo um documento histórico: o Consenso de Terapêutica Antimicrobiana da Hanseníase, resultado do trabalho rigoroso de 12 pesquisadores e construído em parceria inédita com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

Trata-se de um dos documentos técnico-científicos mais completos já elaborados no Brasil orientado para o tratamento da hanseníase. “Nosso objetivo é oferecer diretrizes atualizadas e embasadas em evidências para aprimorar o cuidado clínico, orientar o manejo de casos e propor alternativas terapêuticas mais eficazes”, explica o presidente da SBH, hansenologista Marco Andrey Cipriani Frade.

Hanseníase tem cura e tratamento gratuito, porém é preocupante o índice de falência (quando paciente ainda apresenta bacilos vivos ao final do tratamento) e recidiva (volta da doença tempos depois da cura). O tratamento é feito com um coquetel de antibióticos, a Poliquimioterapia, utilizada há quatro décadas. A SBH defende a atualização dos medicamentos. “O Brasil tem pesquisa e estrutura para desenvolvimento e fabricação de drogas mais atualizadas, com condições de produção para abastecimento interno”, explica o hansenologista.

O Consenso acaba de ser lançado e já é considerado um documento decisivo para a prática clínica, estruturado em capítulos que abrangem desde o histórico do tratamento da hanseníase até uma revisão aprofundada de cada fármaco hoje utilizado — incluindo mecanismos de ação, metabolismo, doses recomendadas, efeitos adversos, interações medicamentosas e evidências sobre resistência bacteriana.

Entre os destaques, o documento apresenta:

-Revisão detalhada das principais drogas usadas na hanseníase

-Outros esquemas terapêuticos – além da PQT, o coquetel preconizado e oferecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aos países – ou esquemas substitutivos utilizados em situações de intolerância ou falência terapêutica — algo crítico, considerando que muitos pacientes apresentam efeitos adversos significativos.

-Diretrizes específicas para gestação, lactação e pediatria - pela primeira vez, a SBH publica um documento amplamente discutido e aprovado também por SBP e FEBRASGO, garantindo segurança na tomada de decisão em grupos de maior vulnerabilidade.

-Capítulo completo sobre falência terapêutica, resistência bacteriana e recidiva - o Consenso apresenta definições claras e atualizadas de: recorrência, recidiva precoce e tardia, persistência bacilar, reinfecção, insuficiência terapêutica e mecanismos de resistência.

O Consenso é um norteador importante para o diagnóstico da hanseníase que ainda é um desafio. Apesar de o Brasil cumprir a notificação compulsória, a SBH alerta para um subdiagnóstico expressivo, que mantém milhares de pessoas fora do tratamento favorecendo a transmissão da doença.

O documento destaca avanços importantes como o exame clínico neurodermatológico qualificado como pilar do diagnóstico, a utilização de baciloscopia, histopatologia, testes sorológicos (anti-PGL-I) e PCR, e a incorporação de ultrassonografia de nervos, que proporciona maior precisão no diagnóstico precoce de neuropatias.

Esses recursos são fundamentais para reduzir atrasos diagnósticos — que hoje podem superar cinco anos em algumas regiões do Brasil — e para impedir o surgimento de sequelas.

Lançado durante o 19º Congresso Brasileiro de Hansenologia, realizado em Foz do Iguaçu-PR, de 25 a 28 de novembro, o Consenso é considerado um avanço científico e institucional sem precedentes no país por oferecer aos profissionais de saúde, pesquisadores, gestores públicos e toda a comunidade da hanseníase uma referência sólida para decisões clínicas e políticas.

O Brasil é hoje o país que mais diagnostica novos casos de hanseníase a cada grupo de 100 mil habitantes no mundo e a SBH alerta, há anos, autoridades brasileiras e estrangeiras para uma endemia oculta da doença – que são milhares de casos sem diagnóstico.