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Discurso de abertura do 15° Congresso Brasileiro de Hansenologia

Data de publicação: 15/11/2018

 

Claudio Salgado acaba de proferir seu discurso no Centro de Convenções de Palmas (TO), onde acontece o 15° Congresso Brasileiro de Hansenologia. O evento reúne mais de 100 palestrantes brasileiros e estrangeiros e comemora os 70 anos da SBH. Em seu discurso, Salgado fala de políticas de enfrentamento da doença, da necessidade e importância do ensino da hanseníase na universidade, dos problemas enfrentados pelo Brasil e faz uma homenagem aos grandes nomes que fizeram a história da luta contra a hanseníase no Brasil.

"Caros amigos,

Antes de iniciar a minha fala, gostaria de tecer alguns agradecimentos. Diretoria, patrocinadores, apoiadores, organizadores, pessoal local.

Estamos aqui reunidos para celebrar a vida. Vida de 70 anos da SBH. 70 anos de combate à hanseníase no Brasil e no mundo. O congresso dos 70 anos da SBH foi delineado há exatamente 12 meses, durante a assembleia geral da nossa sociedade, no Hangar Centro de Convenções de Belém do Pará. Digo delineado porque primeiro discutimos a possibilidade de fazermos um novo congresso em 2018, em lugar do simpósio, justamente para comemorar os 70 anos da SBH. Em seguida, o secretário de saúde de Palmas à época, Nésio Fernandes, apresentou não somente a candidatura da cidade de Palmas, mas o compromisso de inscrever 300 profissionais de saúde do município, fato que se concretizou com a atual Secretaria, e possibilitou a presença de muitos de vocês hoje, aqui no 15º Congresso da Sociedade Brasileira de Hansenologia.

Mas a origem do congresso vem de muito antes, lá do final de 2015, quando Nésio resolveu perseguir a meta de 100% de cobertura da estratégia saúde da família no município, que se associou ao treinamento e capacitação de todos os profissionais de saúde do SUS para o diagnóstico e o tratamento dos pacientes, assessorado por um dos mais importantes membros contemporâneos desta sociedade, o médico Jaison Barreto. O resultado disso todos nós já sabemos: o aumento em mais de cinco vezes no número de casos novos no município de Palmas em 2016, patamar que se manteve em 2017 e agora em 2018.

Perguntei a alguns ex-alunos meus da UEPA e da UFPA o que estava acontecendo por aqui, afinal, sempre ouvimos das enormes dificuldades que existem em se contratar médicos para trabalhar no sistema público de saúde, especialmente nas cidades menores. As respostas que ouvi foram sempre calcadas em dois pontos: respeito ao trabalho médico, com horas reservadas para capacitação, e uma boa estrutura de saúde para trabalhar. Fiquei mais impressionado ainda com a posição de que não queriam sair do seu local de trabalho, fato raro de se ouvir por onde andamos, corroborado pela máxima de alta rotatividade de médicos no sistema, alardeada por todos os que fazem treinamento em serviço Brasil afora. E aqui estamos hoje, na abertura do nosso congresso em Palmas, no dia 15 de novembro de 2018.

Para onde olhamos nestes 70 anos de vida da SBH, enxergamos gente da maior qualidade em nossa sociedade. Gente do quilate de Rubem David Azulay, Luiz Marino Bechelli, Diltor Opromolla, Abraão Rotberg, René Garrido Neves, Nelson Souza Campos, João Ramos e Silva, e tantos mais que deixaram a sua marca na hansenologia internacional, além de muitos outros e outras que felizmente ainda aqui estão, como Norma Foss e Euzenir Sarno, Leontina Margarido e Marcos Virmond, somente para citar alguns.

Durante todos estes anos, a SBH esteve presente e atuante na hansenologia brasileira e mundial, participando sempre da melhor maneira possível, em parceria com ONGs e com o Ministério da Saúde, apoiando as medidas que achava corretas e promovendo o bom combate contra proposições que julgava tecnicamente inviáveis ou duvidosas, sempre tendo como primeiro plano o paciente de hanseníase, já tão alcançado por questões de estigma e discriminação. Foi assim com a política do isolamento, com a BCG, com os primeiros antibióticos, com a PQT e, mantendo o perfil de coerência, mais recentemente com o MDT-U, sobre o qual teremos discussões dentro deste congresso, aliás, com uma mesa específica composta por hansenólogos brasileiros e estrangeiros. É assim que somos, é assim que funcionamos.

Temos nos posicionado enfaticamente com relação à falta de diagnóstico da hanseníase no Brasil e no mundo! Com a meta da OMS de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública para o ano 2000, ou seja, há 18 anos, muitos países e, dentro dos países, muitos estados receberam certificados de eliminação da hanseníase, que nos trouxe um grave efeito colateral: a hanseníase acabou, não existe mais. Quantos de vocês já ouviram a pergunta, “mas isso ainda existe?”. Os pacientes, que antes eram facilmente encontrados aglomerados nos leprosários e, portanto, chamavam a atenção, retornam à sombra da sociedade, destinados a viver com a sua doença sem diagnóstico e, mesmo após receber o diagnóstico, a conviver com as suas incapacidades, somente por terem sido adquiridas por uma doença que já não existe mais, portanto, incapaz de ser devidamente tratada e curada, quando o que tem que ser tratado e curado é o preconceito arraigado no coração da nossa sociedade.

Se não diagnosticamos os pacientes já com lesões clássicas e bem estabelecidas, porque haveríamos de diagnosticar hanseníase precoce, encontrada nos casos iniciais, especialmente entre os contatos? A hanseníase que acabaria no ano 2000, foi eliminada dos currículos antes disso, dentro das universidades brasileiras. Se a doença vai acabar, por que vou ensinar, ou por que vou aprender? O resultado é bastante claro, temos profissionais de saúde atuando no mercado, que nunca viram um caso de hanseníase, e que vão continuar sem ver, apesar de o paciente estar sentado dentro do consultório, bem à sua frente.

Nossos exames de contato são, literalmente, precários. Não examinamos bem ou, simplesmente, não examinamos. Mas os dados oficiais nos mostram mais de 80% de exame de contatos, exatamente o que está pactuado, e que gera recursos para os municípios. Examinamos mais de 80% dos contatos, mas apenas não mais que 8% dos casos de hanseníase são diagnosticados entre os contatos. Não há relação entre quantos examinamos e o percentual de diagnósticos. Em algum lugar estamos falhando, e devemos rever imediatamente.

Pesquisamos muito e aplicamos pouco. Estamos seguramente entre os países que mais pesquisam hanseníase no mundo. Vamos das características clínicas à quimioprofilaxia, da sorologia à biologia molecular, mas simplesmente não conseguimos traduzir isso em ferramentas do SUS que estejam à disposição dos colegas para auxiliar no diagnóstico da doença. Mais do que nos perguntar, precisamos exigir que ferramentas usadas para outras doenças, como sorologia e PCR, eletroneuromiografia e ultrassom estejam amplamente disponíveis para auxiliar no diagnóstico da hanseníase, onde quer que o paciente esteja, no centro da maior capital do país, no município de 5.000 habitantes, dentro das favelas, no meio da Amazônia ou no sertão nordestino, lugares que nem médico tem.

Todos estes temas serão intensamente debatidos durante o congresso dos 70 anos, e foram cuidadosamente preparados pela comissão científica, coordenada pela Isabela Goulart que, como prometido a ela quando a convidei para esta função, teve toda a liberdade para preparar a programação. Espero que todos vocês aproveitem.

Ao longo deste texto falei principalmente de pessoas, nosso maior capital aqui está, hoje, neste auditório: vocês. Sejam bem-vindos a Palmas e aproveitem ao máximo o 15º Congresso da Sociedade Brasileira de Hansenologia."

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